É mentira, eu juro!
Não sou poetílica!
Só porque tomo algumas doses diárias de poesia
Não quer dizer que eu seja viciada.
Poeto só socialmente, é tudo!
Sim, é verdade, saboreio dois haikais ao me acordar
Mas é apenas pra minha mente clarear
E tornar meu dia mais suave
Quando estou tensa no trânsito indo trabalhar
Degusto um soneto fresco e perfumado
Que é só para me acalmar
Gosto de um Fernando Pessoa,
de aperitivo antes do almoço
de aperitivo antes do almoço
É um bom digestivo
E me abre o apetite
À tarde , apenas dois ligeiros poetrix
Para acompanhar uma doce trova
que eu mesma faço
que eu mesma faço
À noite, ao chegar em casa, aí sim !
Degusto um longo Drummond on the rocks
Com pedrinhas de Leminski, para relaxar
No jantar, duas taças de Cecília Meirelles
branco e suave
branco e suave
Ou logo um Baudelaire, seco e forte
E antes de dormir, levo um cálice
de Florbela Espanca, licorosa, para o meu quarto
de Florbela Espanca, licorosa, para o meu quarto
Misturo com algumas gotas de Neruda
E trago-a, ao som de Vinícius,
Me entregando, enfim, aos braços de Morfeu
E trago-a, ao som de Vinícius,
Me entregando, enfim, aos braços de Morfeu
E é por isso que vocês me chamam de poetílica?
Estão todos enganados
Quando quiser parar, eu paro.
Não sou viciada.
Não sou viciada.
Mas, por enquanto ...
Poeto, sim! Estou vivendo
Tem gente que não poeta e está morrendo.
Marisa Queiroz